sexta-feira, 8 de agosto de 2008

As agendas

Pode alguém dizer-me pra que servem as agendas antigas. Aquelas que nunca jogamos fora, embora quando são abertas, por acaso, na necessidade de informação esquecida dos dias recentes, haja um amontoado de
Yuri 17-19h30;
Ligar Angela edredon
Notas fim de semana
marcar dedetização
Almoço Gigi aniversário lá em casa
Aniversário Ana Claudia Carioca da Gema
Entregar formulário do seguro
Aniv Jorge
Cortar cabelo
Niver gelo cerveja refri água copos bolo

Foi de trás pra frente (ou da frente pra trás que em questões de cronologia, a frente é o depois e o antes é o atrás, raisparta Chronos, mil vezes). Termina no dia do meu aniversário de quarenta anos e esse sim foi uma data importante. E sabem o que havia na agenda? Nem uma só palavra sobre o que senti.

Nem uma palavra sobre o prazer dos amigos em casa; sobre o espumante Freixenet que a minha amiga norueguesa, casada com o Harry escocês, trouxe para brindarmos; sobre o prazer das flores e da música e dos amigos todos convidados em cima da hora, nenhum faltou ao encontro.

Ou melhor, um faltou. Apenas um. O que me cortou o coração, pois pensei-me jogada de lado. Disse-lhe, depois, na época. Ele deu uma desculpa que não convencia nem as formigas que lhe rondavam os pés, junto à árvore onde paramos no Campus. Ele decididamente não estava convencido. E veio dar uma explicação semana passada, 5 anos depois. Explicação que me deixou parva, pois não explicou nada, só confirmou que eu não sou tão tonta quanto pareço que todo o flirt tinha uma razão e uma origem e que eu não flertava sozinha. Mas fiquei sozinha.

E afinal, pra que servem as agendas? Pra que guardamos agendas que não nos dizem nada que interesse? Pra nos lembrarmos daquilo que permanece tatuado na pele da alma e não necessita de agenda para existir ou ser lembrado, pior ser revivido em dor e na escuridão.

Pra que guardamos as agendas?

Deve ser pra ter certeza de que não sonhamos ou inventamos os acontecimentos. Por exemplo, se aquele telefone e a lista de compras lá estão, o resto todo não pode ser invenção do nosso desejo, embora os psis (de todas as vertentes) digam que assim é e que 90% das nossas memórias nada mais são do que criação espontânea do nosso mais íntimo e inconfessável desejo.

Ainda não sei pra que servem as agendas. Ou pra que guardamos agendas anos a fio. Mas morro de medo de jogá-las fora e não ter mais rastro de quando fui feliz, ou do quanto poderia ter sido.

2 comentários:

Isabel Victor disse...

Oh Lóri ...



mas que surpresa ! :))


Re.encantas-me

Gosto muito desta teu "novo sítio", dear Lóri ! Sabes ... no fundo, no fundo ... algo me parecia familiar neste sítio. No fundo ... o acaso não existe. Conjuga-se no nosso inconsciente.

E Belém lá está esperando por nós :)) !

Joca disse...

Agendas! É um alivio saber que as minhas podem ser jogadas fora sem nenhuma culpa, pois sempre esqueço de anotar o que devo ou preciso fazer...