domingo, 30 de novembro de 2008

Mais um item de cinema


Hoje foi dia de Burn after reading. Gente, esses irmãos Cohen tão cada vez mais folgados. Dão-se ao luxo de fazer qualquer filme (agora vou ser execrada pelos experts!) pelo simples motivo de que há quem pague a fatura, e eu estou sendo absolutamente literal, não há metáfora nisso. Estou falando mesmo do financiamento da produção de um filme, que é gasto inerente à sua realização. Ainda mais considerando o casting escolhido... ui!

Agora, digam, se fosse um ilustre desconhecido tentando fazer um filme com esse argumento, duvido que encontrasse dinheiro. OK, eu sei bem que há realizadores que podem ter em mãos qualquer roteiro que a coisa vai sempre correr bem.

Foi o caso. É genial a idéia de construir uma história, incluindo 3 mortes bestas, em cima de um equívoco estúpido. E nem sequer há uma nuance de suspense ou de tragicidade. O filme não é trágico, embora fale de relacionamentos desmoronados, vidas em frangalhos e mortes inexplicadas. Claro que os atores escolhidos ajudam. O que eu mais gostei foi o John Malkovich e a fria personagem da Tilda Suinton, ainda melhor por nem sequer se questionar sobre a sua condição.

Enfim... fico aguardando a crítica a sério do Mr Movie. A propósito, alguém pode me explicar o que aconteceu com o personagem do George Clooney? É que eu me virei para fazer um comentário bem na hora em que o estúpido do ex-chefe do Malkovich descreve o que se passou e fiquei sem saber o desenlace desse item.

Ai Jesus, que eu vou conseguir me redimir das minhas faltas ao cinema nos últimos meses!

sábado, 29 de novembro de 2008

Seja sexo ou cinema


Fui ver o novo Woody Allen. Gostei. Diria mesmo que gostei muito. Ri do humor que execra o grotesco que há na sociedade americana, mas não apenas nela, em quase todas, mas que nela é como que validado e abençoado pelo status quo, enquanto em outras, europeias, por exemplo, parece algo apenas tolerável, como a futilidade e o materialismo levados à sua mais refinada estupidez. Gente que fala de decoração como se da essência da vida se tratasse. Boring people. Porém apenas no contraste com outras coisas, digamos, mais radiantes de vida. Botem as mesmas abordagens e os mesmo diálogos em uma daquelas revistas lindas em papel cochê, com uma quantas fotos de lugares clean and basic, com cores cruas e boa luz e fica tudo tolerável. Parece que o mundo só existe no contraste. Como afirmam aliás, alguns lingüistas, mas, OK, eles falam de outros fatos, outras problemáticas. Mas os psi tb dizem isso: eu existo enquanto mulher porque me oponho a outros seres que são homens. Reconheço-me na minha cultura pois encontro indivíduos de outras culturas, tão seguros da sua validade absoluta quanto eu da minha a ponto de esquecermo-nos, uns e outros, da relatividade gritante que há em cada escolha, em cada olhar, em cada comentário.

Mas gostei do filme. Aí, chega um indíviduo blasé, ou que se quer acima do resto da pobre humanidade, na qual eu me incluo (essa humanidade que expressa abertamente o prazer que obteve do ato), e o tal indivíduo diz aquela baboseira que a gente já ouviu algumas vezes, que o bom mesmo do WA é o seu lado depressivo, que "esse sim é o WA que eu gosto" e que o resto é só mais um filme bem feito e passemos aos mesmos comentários acerca de Almodóvar, e por aí vai. Saímos da sala de cinema e passamos à realidade nua e crua e impregnada daqueles terríveis cheiros de um shopping center, em que se misturam as comidas mais bestas com os perfumes dos usários, num pot-pourri enlouquecido, o qual só se consegue suportar se começamos a pensar na filosofia mais abstrata da vida. Aqui entra a minha principal observação sobre o evento desta noite.

Diria eu ao indivíduo blasé (caso tivesse o que se chama no cotovelo da Europa, pachorra) "olha só, bem feito, pra mim, é o que me dá prazer, seja sexo ou cinema" e ponto. Tá certo, tem que ter fotografia, música e algo que escape a todas a enumerações objetivas mas que é resultado da soma de todos os itens que compõem a obra, mas que não é passível de identificação individualizada. De toda forma, não tou muito preocupada se o realizador (essa palavra até cai bem nas duas situações) é calvo ou branquela, se escolhe bem a cor da camisas ou se come rúcula com os dedos. Só não pode ter um cheiro que me afaste ou uma voz que não me envolva. E tem que fazer filmes que me envolvam em alguma parte indefinida do meu ser ou da minha existência. Claro, pois eu estava falando de cinema, sobretudo. Aliás, eu até acho que gosto mais de cinema do que de sexo (ou é a noite de chuva depois de muito trabalho). É que cinema é um produto que já está acabado e pronto quando você vai usufruir dele. Sexo você tem que construir e depende do humor (seu e do outro) no momento. E depois, cinema, assim como sexo, você tem 50% de chances de gostar ou não gostar, mas se gostar, do cinema, você vai poder repetir a dose e o prazer, sem se preocupar se estará num bom momento, ou se você envelheceu, ou se mudaram as suas preferências. Em geral, se você gosta de um filme, sobretudo se você gosta de um diretor, você gosta dele, não vai mudar de opinião. Pode moldar o olhar, aliás, aqui também, acho que o objeto modela o olhar, caso você goste da primeira vez. Já o sexo... eu nem preciso desfiar o que os mais crescidinhos já estão fartos de saber... próximo filme, por favor. E sem companhias experts em cinema, please.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

CEP 20.000


Encontrei por vias transversas - tudo parece sempre acontecer por essas vias, aliás - um lugar que se chama Rio que mora no mar. Tem coisas básicas, sem ufanismo, só a mera constatação de, que me desculpem os de outros lugares (parodiando o Vinícius), mas o Rio é fundamental. Vou colocar nos links, mas recomendo uma passagem imediata por aqui.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Sobre blogs e blogueiros

O Lauro Antonio Corado é um bloger inattendu e insuspeito pois não faz parte da geração blog padrão, também não passou a adolescência escrevendo pessoalidades e usando codificações duvidosas que só têm por mérito isolar em uma redoma de linguajar pequenos (ou grandes) grupos de semi-desocupados (ou de desajustados de qualquer espécie) como é o caso, em geral, do jargão adolescente de conteúdo, em geral, esvaziado.

E assim, escrevendo em linguagem impecável e usando textos, às vezes, longuíssimos - contra toda padronização bloguística - Lauro consegue o inesperado, ter um blog atualizado e interessante, multidomínios e agradável aos olhos, levando o caráter plurissemiótico do gênero às últimas conseqüências, mas sem cair no vulgar ou se descaracterizar. O LA apresenta tem uma identidade que não se perde e a não perder.

Tudo isto para dizer que ele nos ofereceu um excelente texto sobre o gênero blog que, apesar de longo, considero leitura necessária para quem se interessa genuinamente pelo gênero, seja para brincar de escritor de blogs, seja para exercer o papel de leitor público ou incógnito como tantos
lurkers que conheço. Ou, para quem começa, como eu e outros, a criar sistematizações passíveis de serem utilizadas em aulas de práticas da linguagem, onde se ensina que a Internet e seus gêneros há muito deixou de ser brincadeira de adolescentes e "desocupados" - rótulo muito em uso na década passada - e se tornou coisa séria. Séria no que diz respeito aos processos de construção e aos seus conteúdos, mas ainda e sempre genuinamente lúdica na forma e nos conteúdos. Deixo, abaixo, uma provinha para quem tem pressa, mas tudo está aqui, é só clicar.

Navegar na Internet, surfar pelos blogues impõe uma mentalidade nova e um rigor cada vez maior. A ingenuidade não é mais possível e essa é uma das características para que urge alertar o consumidor passivo destas novas ferramentas tecnológicas.
(...)
A blogosfera tem de tender a ser essa terra de respeito mútuo, de construção colectiva, de utopia possível.
Numa altura em que quase todas as utopias ruíram, em que os valores se afundam, em que o materialismo guerreiro se tenta instalar com os resultados que todos vemos, é importante reinventar novas utopias, que sendo utopias todos sabemos não cumpridas a cem por cento no futuro, mas prováveis de concretizar em larga medida.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Para além do simbólico e dos democratas - um aniversário

Se eu fosse um ultraconservador republicano, diria que ela só podia mesmo ter nascido num dia como o de hoje. Ou, por outra, que o Obama só podia ser eleito num dia como o do aniversário dela. É quase o mesmo. O fato é que a Menina sem nome faz anos hoje e já que ela não deve ter tido arroz-doce em condições, deixo-lhe aqui um mimo, diretamente de uma primavera que nunca mais voltará, pra nenhuma de nós, mas que merecemos todas lembrar muitas vezes. OK, o Bárbaro Branquinho também.

Feliz Aniversário!

Por questões de segurança e privacidade digital, foto absolutamente fantasiosa. Todas as situações e personagens foram inventadas - exceto pelo arroz doce que foi a mãe da S. quem fez e estava uma maravilha; o vinho e o doce de figo que a L. trouxe também; o jantar que a T. fez idem; além dos risos e da farra que foi ótima; e o queijo da serra, claro.
Qualquer semelhança com pessoas ou fatos reais é mera coincidência.

Do simbólico para os humanos


Não é porque eu ache que as coisas podem mudar como num passe de mágica. Mas porque nós precisamos de símbolos e rituais para empreender mudanças e foi-nos oferecido um símbolo como há muito muito muito tempo não tínhamos. Adorei ler as notícias hoje ao acordar e não é porque eu seja ingênua ou acredite em milagres (eu até acredito!), mas eu prendo-me sobretudo ao valor simbólico desta eleição. Foi o acontecimento do ano. Hors-concours pra tudo!

A foto me foi enviada pela Olga, visitante itinerante deste boteco.

sábado, 1 de novembro de 2008

Fim do quartinho dos fundos


Este blog já ultrapassou, em postagens, a minha idade em anos e eu estou num impasse. Eu sempre chego a este tipo de impasses, pois, por mais que assuma compromissos comigo e com os outros, a minha natureza não aceita bem esquizofrenias e eu só consigo ser inteira em cada coisa e não só uma parte de mim e do que eu sou, para guardar sovinamente a outra (ou as outras) parte para uma melhor ocasião.

Com este blog acontece o mesmo. Melhor dizendo, este era para ser a parte pública e o outro, a casa da árvore, o interior, o quartinho dos fundos da minha boate onde só entrariam os VIP para beber scotch 12 anos ou fumar o melhor fumo. Como eu não fumo coisa alguma e me satisfaço com Johny Walker 8 anos, dividi-o com todos os que passam e cujo olhar, ainda que virtual, me parece límpido e do bem, ou louco e intrigante. E eu dificilmente me engano com os olhares.

Assim, hoje vou ser íntima e pessoal, pois é difícil ser outra coisa o tempo todo. Claro, estou aprendendo que em determinadas ocasiões, em certos espaços e com específicas pessoas, é preciso ser sempre menos, só uma parte e nunca, nunca, nunca ser o que se é, sob o risco de dar com os burros n'água e sair de nariz esmurrado, joelhos feridos e dente quebrado, sobretudo se não se sabe pôr as mãozinhas na frente quando se cai. Isso é outra coisa que eu nunca aprendi, apesar dos aniversários, pôr as mãos na frente. Mas ainda não desisti. Só que sou má aluna, talvez esse seja o problema.

Fui boa aluna na escola, no colégio, na faculdade. Fui ótima aluna no mestrado e no doutorado. Mas, na vida, sou má aluna: indisciplinada, cheia de vontades e com péssimos hábitos como os de me apaixonar por muitas coisas e por algumas pessoas. Depois que a paixão se instala, eu faço qualquer coisa para prolongar a experiência, mas todos sabemos que as exposições acabam, que as pessoas desaparecem, morrem, se mudam e que no fim daquele maravilhoso espetáculo do Gades a cortina sempre se fecha definitivamente e é hora de levantar da cadeira, encontrar um transporte e seguir para casa.

Estou começando a me exercitar na arte de encontrar o transporte certo e escolher o caminho mais curto e seguro para casa. Mas a vida é tão mais interessante do que isso (quase) o tempo todo...