Andava, a esmo, entre dois blogs amigos quando me deparo com as seguintes frases do Lauro Antonio a falar sobre a imagem que fixa uma lembrança amada e que, como imagem construída em mídia material e, por isso mesmo, destrutível pelo passar do tempo e pela usura da visualização repetida, perde-se. Perde-se porque desaparece. Desaparece porque desvanece, evanescente que é. Evanescente, pois frágil material. Frágil material, como frágeis sentimentos, como frágeis as paixões, como frágeis as lembranças das paixões.
Dizia LA sobre as blueberry nights:
Da erosão da espera. Da erosão do amor. Da erosão de um passado, de que se libertam, em direcção a um futuro que tudo permite.
Há demasiada esperança no fim dessas frases para o meu gosto, hoje, mas, malgré moi, acredito nisso, como acredito na erosão dos sentimentos e do passado.
Só não acredito nas sobras. Anda toda a gente a me querer empurrar sobras pela goela abaixo. Logo a mim, que como tão pouco e, a comer sobras, prefiro o jejum. Uns querem empurrar-me as sobras do lanche de sábado, refeição frugal, mas sempre mais especial do que no correr da semana. Outros, mais fartos, querem empurrar-me as sobras do almoço de domingo.
Ora, façam-me o favor, eu não preciso de sobras, por diversas razões. A primeira, é que viro-me suficientemente bem na cozinha pra precisar de sobras, seja lá de que natureza forem. A segunda, é que já tive alguns tão especiais repastos, para mim preparados, que até parece mal contentar-me com restos de outros. A terceira, é que só acredito em reciclar para o meio-ambiente e não para o meu ambiente (sorry! não resisti ao trocadilho!). Se desisti de reciclar amores, os que foram meus mesmo, como alguém pode se lembrar de me querer despachar para a boca, para os braços (e para o resto) as sobras dos amores alheios?
Estava eu a falar de erosão e cheguei nas sobras, Freud deve ter alguma boa explicação para isto, mas não me venham pedir uma que, por hoje, é só.
PS: Ocorre-me, agora, que uma das frases lá em cima, é quase um plágio de um verso do Carlos Tê para o Rui Veloso: frágil a memória da paixão. Faço questão de atribuir o copyright de tão bela imagem, até porque remete-me a belas e preciosas imagens outras.
Dizia LA sobre as blueberry nights:
Da erosão da espera. Da erosão do amor. Da erosão de um passado, de que se libertam, em direcção a um futuro que tudo permite.
Há demasiada esperança no fim dessas frases para o meu gosto, hoje, mas, malgré moi, acredito nisso, como acredito na erosão dos sentimentos e do passado.
Só não acredito nas sobras. Anda toda a gente a me querer empurrar sobras pela goela abaixo. Logo a mim, que como tão pouco e, a comer sobras, prefiro o jejum. Uns querem empurrar-me as sobras do lanche de sábado, refeição frugal, mas sempre mais especial do que no correr da semana. Outros, mais fartos, querem empurrar-me as sobras do almoço de domingo.
Ora, façam-me o favor, eu não preciso de sobras, por diversas razões. A primeira, é que viro-me suficientemente bem na cozinha pra precisar de sobras, seja lá de que natureza forem. A segunda, é que já tive alguns tão especiais repastos, para mim preparados, que até parece mal contentar-me com restos de outros. A terceira, é que só acredito em reciclar para o meio-ambiente e não para o meu ambiente (sorry! não resisti ao trocadilho!). Se desisti de reciclar amores, os que foram meus mesmo, como alguém pode se lembrar de me querer despachar para a boca, para os braços (e para o resto) as sobras dos amores alheios?
Estava eu a falar de erosão e cheguei nas sobras, Freud deve ter alguma boa explicação para isto, mas não me venham pedir uma que, por hoje, é só.
PS: Ocorre-me, agora, que uma das frases lá em cima, é quase um plágio de um verso do Carlos Tê para o Rui Veloso: frágil a memória da paixão. Faço questão de atribuir o copyright de tão bela imagem, até porque remete-me a belas e preciosas imagens outras.
12 comentários:
adorei ler-te, Lóri...
claro que não precisas de sobras, e se ainda por cima és boa cozinheira...
beijinho
Não dê restos nem aos seus animais de estimação!
Imagine-se a Lóri de volta de restos!
Haja paciência... :-))
Abraço fresquinho, não é a sobra de nenhum outro
....Lóri não quer, não precisa e jamais terá restos.
Mas do amor sempre ficam vestígios, fragmentos (nem sempre discursivos, apenas!). Formariam, no conjunto, uma provável memória afetiva? Ah, quantos de meus amores permanecem comigo?
Sabes o que me lembra este teu primeiro parágrafo? Quando deitamos no divã do analista e despejamos tudo o que está espremidinho no cérebro e aí uma palavrinha só... abre a torneira.
Já quando dizes "ora façam-me o favor eu não preciso de sobras" vi-te na janela do teu apartamento a gritar para todo o bairro ouvir e principalmente a quem se encaixa no recado. Não usaste mega-fone, pois não? Devias! Assim estava liquidado o caso.
Queremos e exigimos peças originais de fábrica e com garantia de, no mínimo, cinco anos.
Bom molejo, lubrificação adequada nas juntas, e parafusos de rosca.
Sobras, só de frango para fazer omolete com queijinho ralado.
beijos e se quiser...estou aqui
Querida Pit,
Olha que já passa das 23..acabo de chegar em casa e ainda vim trabalhar, mas não resisti a responder rapidinho ao teu coment, e olha que o meu almoço foi um pastel de forno e um mate diet... e matei uns 3 leões. Enfim... é isso minha querida: divã, janela, megafone e peças com garantia de fábrica. Já disseste tudo.
Eu sei q estás, mas, como te disse, preciso chegar ao fim de junho e aí retomo a minha vida.
Beijinhos!
Luís, Rosa, Joca,
Adorei as reações. Rosa, o abraço parecia pão recém-saído do forno, soube bem e o Luís sabe bem como mimar virtualmente. E sim, Joca, há sempre muitos vestígios, mas são os nossos, não os de outros/as. Há que haver vestígios pra nos dizerem que as lembranças são de fatos reais.
Qto à tua última frase, acho q todos os meus amores permanecem comigo, um não substitui o outro, cada um tem um espaço que nunca mais será ocupado. Mas é que os autores dos amores se vão e nunca mais serão os mesmos que foram quando eram nossos amores. Acho, pelo menos.
Beijos aos três!
... Lóri, os amores que se vão são aqueles que reencontraram seus próprios caminhos. Sim, concordo contigo quando dizes que os que ficam são os nossos amores, momentaneamente espelhados noutro. Pode durar um fugaz momento ou toda a Eternidade - tal qual À Passante, de Baudelaire...
Amanhã é o niver do Pitanga Doce. Se não fores nem sei que te faço...
Querida lori,
todo o texto fez eco em mim,
como se eu estivesse
a seguir-te em cada palavra reconhecida.
Sinto tudo isso.
Sei muito bem, as sobras.
A frase de Lauro Antonio(lembrei-me dele agora, no Café Zé Carioca em 1970!!!)acreditas? Crianças...
bom, é esperança a mais...en trop.
Infantil como posso ser, queria agora levar-te a passear no Marais e partilhar um bolo imenso com um chà russo, so pra nos, até ao fim...e rir disso tudo.
Mimos de Paris,
LM
... se ain~da não viu, que veja o último filme de Jamursch, FLORES PARTIDAS. Diz muito sobre tudo isso...
Sobras? Sobras nunca! Mas que são sobras? Não estamos a viver o tempo que sobra das nossas nossas vidas? Não comemos o que sopbra do banquete da História? Não tomamos banho na água que sobra? Não respiramos o ar que sobra? E não é o bacalhau que sobra com o qual se faz um delicioso piteu no dia seguinte, "roupa velha"? Há mesmo um ditado popular sobre como ir às sobras de certos caixotes do lixo de senhores/as que se armam em "novos ricos"!
Minha querida, às sobras andamos todos desde que nascemos. A vida é que sobra depois de nascermos. Aproveitemos o que sobra de felicidade, porque depois só nos sobra a morte.
Esqueci-me: uma sobra de beijos para ti.
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