domingo, 1 de junho de 2008

Ao lembrar do poeta quase pássaro,


como disse a moça da ÁguaViva, o tal que tomou veneno em Paris e que por "um pouco mais de sol", retomei um texto recente, em que eu era assim:

Acabo de ler "Cartas desde la ausencia" e, ainda que seja com o meu espanhol lleno de vacíos, fiquei arrasada e o livro caiu-me como uma bomba certeira, bem no centro dos meus "não seis" que eu tenho usado ultimamente para acalmar minha angústia. A angústia diante da certeza íntima de que estou no caminho mais rápido e mais reto para longe de mim. Longe de tudo em que acredito. Longe do meu desejo. Tenho medo de me afastar tanto que já não vou saber como regressar. Por isso escrevo.

Acho que o jogo era esse mesmo. Afastar-me de tal forma de mim que já não saberei voltar. Mas o que eu sou me puxa de volta e cá estou eu. Podia ser como todos, e criar mecanismos de flutuação, como pequenos prazeres e a própria inveja alheia como alimento para a minha diversão. O fato é que nunca me alimentou a inveja alheia, e eu mesma nunca fui boa em exercitar esse sentimento.

Mas a inveja alheia só me desalterna de mim mesma ou me faz retornar a mim, mais sedenta e sóbria, mais só e certa, mais curiosa do que se lhe opõe. A inveja alheia alimenta quem a sente, mas não me suja os pés, nem desencontra. Apenas desencanta a parte minha que ainda acreditava um pouco nesses alheios e que tem que deixar no caminho mais um copo vazio, mais uma cadeira recém-desocupada, mais um olhar de desencontro que ameaçou, um dia, encontro pleno e ficou só na promessa falsificada, como qualquer made in china que se preze.

4 comentários:

Luis Eme disse...

como eu compreendo as tuas palavras...

há sempre gente pronta a nos desiludir, por coisas tão pequeninas...

beijo Lóri

Lóri disse...

Beijo, meu querido guardador. É isso.

clarinda disse...

Olá!

Se tiveres paciência conta um pouco do que se passa nas" Cartas desde lá ausência". A moça do aguaviva agradece.

Este último parágrafo prova que não te afastaste de ti. Entretanto já fui à casa de campo,mas deixei pegadas.

Um beijo

Lóri disse...

OK, Cla, prometo que ponho em breve algo sobre o livro. Mas emprestei-o e tou a esperar retorno, pois queria citar umas coisas.

Mas fiquei parva a olhar para o Agua Viva, como se olham as grandes portas de um castelo a que se chegaou fora d'horas de visita. Como já me aconteceu na cidadela, em Perpignan. Mas lá, ao menos, havia uma senhora (sempre há alguma idosa a passar) que nos acolheu como se fosse a caseira e entabulou uns 30 minutos de conversa sobre como os do Midi se sentem próximos de nós, da América do SUl e distantes dos outros, au-dessus de la Loire.

Olha, já pensaste em deixar uma velhota à porta? Sempre dava jeito para os desavisados!
Beijos e saudade... de ti na Candelária.