sexta-feira, 25 de abril de 2008

25 de abril


Como o sangue, corremos dentro dos corpos no momento em que abismos os puxam e devoram. Atravessamos cada ramo das árvores interiores que crescem do peito e se estendem pelos braços, pelas pernas, pelos olhares. As raízes agarram-se ao coração e nós cobrimos cada dedo fino dessas raízes que se fecham e apertam e esmagam essa pedra de fogo. Como sangue, somos lágrimas. Como sangue, existimos dentro dos gestos. As palavras são, tantas vezes, feitas daquilo que significamos. E somos o vento, os caminhos do vento sobre os rostos. O vento dentro da escuridão como o único objecto que pode ser tocado. Debaixo da pele, envolvemos as memórias, as ideias, a esperança e o desencanto. (...) À noite, estendemos os braços para entregar uma bala, ou um frasco de veneno, ou uma lâmina, ou uma corda. À noite, tocamos em rostos. E sorrimos. O som de um tiro. O fogo dentro de um frasco de veneno. Sangue a secar na linha de uma lâmina. Uma corda esticada na noite. Morte fogo sangue morte.
José Luis Peixoto

Quanto sangue é/foi preciso para preencher o vermelho da bandeira? Sangue antigo, de Alcácer Quibir, do Cabo das Tormentas, de Ourique ou Aljubarrota; sangue novo, no Terreiro do Paço, na Guiné, em Angola, Moçambique ou em Timor.

Feliz mais um Abril!
A todos que o fizeram, aos que não o fizeram, aos que o desejaram, aos que não o desejaram, aos que ainda esperam.

5 comentários:

Anônimo disse...

Um beijo de Abril!

clarinda disse...

Olá Lóri,

Regressaste, ainda bem.

Beijinhos

Luis Eme disse...

Que maneira bonita de sentir Abril, desse lado do Atlântico, Lóri.

beijinho

Rosa dos Ventos disse...

Eu nunca consigo apanhar a nossa bandeira assim, esvoaçante!
Apanho-o sempre bem murchinha... :-((

Abraço

Lóri disse...

Querida Rosa,

Essa foi obra do nosso Guardador das Margens do Tejo. Ele é o bom fotógrafo, eu só fiz a solicitação! Bjs!