... Cohn-Bendit diga que não existe mais, que talvez nunca tenha existido, a não ser no desejo dos jovens de 40 anos atrás, eu acho, e estou certa de que muitos hão de concordar, que este mundo está cheio de motivos e pretextos para um outro maio. Há algo nesta estúpida esfera cada vez mais recheada de cérebros que pede, exige, que não se perca o sentido de Mai 68. Mesmo que todos já saibam que há sempre um pedacinho de plage sous les pavés. Mesmo que já quase nada seja proibido. Ou por isso mesmo.
Maio continua nas ruas do meu país. Maio continua nas ruas do meu outro país. Por favor, corrijam-me os daí, Luís, Rosa, Lauro, Cla. Ou melhor, maio devia continuar, a ver se alguém começava um novo modo de se conduzir e de conduzir os dias e as noites do povo que mora nas calçadas e dos que moram em casas que mal podem receber esse nome e dos que nem moram, por já se terem esquecido que fazem parte da mesma espécie dos que passam, pasta de couro embaixo do braço, perfumados e ausentes do mundo que os cerca. Anda tudo colorido, como abaixo. Mas as palavras do Caetano nunca foram tão realistas.
Sobre a cabeça os aviões
Sob os meus pés os caminhões
Aponta contra os chapadões
Meu nariz
Eu organizo o movimento
Eu oriento o carnaval
Eu inauguro o monumento no planalto central
Do país
Viva a bossa-sa-sa
Viva a palhoça-ça-ça-ça-ça
Viva a bossa-sa-sa
Viva a palhoça-ça-ça-ça-ça
O monumento é de papel crepom e prata
Os olhos verdes da mulata
A cabeleira esconde atrás da verde mata
O luar do sertão
O monumento não tem porta
A entrada de uma rua antiga, estreita e torta
E no joelho uma criança sorridente, feia e morta
Estende a mão
Viva a mata-ta-ta
Viva a mulata-ta-ta-ta-ta
Viva a mata-ta-ta
Viva a mulata-ta-ta-ta-ta
No pátio interno há uma piscina
Com água azul de Amaralina
Coqueiro, brisa e fala nordestina e faróis
Na mão direita tem uma roseira
Autenticando eterna primavera
E nos jardins os urubus passeiam a tarde inteira
Entre os girassóis
Viva Maria-ia-ia
Viva a Bahia-ia-ia-ia-ia
Viva Maria-ia-ia
Viva a Bahia-ia-ia-ia-ia
No pulso esquerdo bang-bang
Em suas veias corre muito pouco sangue
Mas seu coração balança a um samba de tamborim
Emite acordes dissonantes
Pelos cinco mil alto-falantes
Senhora e senhores ele põe os olhos grandes
Sobre mim
Viva Iracema-ma-ma
Viva Ipanema-ma-ma-ma-ma
Viva Iracema-ma-ma
Viva Ipanema-ma-ma-ma-ma
Domingo é o Fino da Bossa
Segunda-feira está na fossa
Terça-feira vai à roça
Porém
O monumento é bem moderno
Não disse nada do modelo do meu terno
Que tudo mais vá pro inferno, meu bem
Viva a banda-da-da
Carmem Miranda-da-da-da-da
Viva a banda-da-da
Carmem Miranda-da-da-da-da
17 comentários:
Lóri, concordo vivamente com você. Devemos lutar contra essa apatia que se faz imperativa. Não podemos aceitar como normal essa miséria (em todos os níveis) que assola o país; o mundo...
Organize o movimento, que estarei a postos!
Ah, mas não sem antes dar uma passadinha na Cavé, sua furona!
"Vento de maio
Rainha de raio
Estrela cadente
Chegou de repente
O fim da viagem
Agora já não dá mais
Pra voltar atrás
Rainha de maio
Valeu o teu pique
Apenas para chover
No meu piquenique
Assim meu sapato
Coberto de barro
Apenas pra não parar
Nem voltar atrás
E se eu escuto no rádio do carro
A nossa canção Sol, girassol E meus olhos abertos
Pra outra emoção
E quase que eu me esqueci
Que o tempo não pára
Nem vai esperar
Vento de maio
Rainha dos raios de sol
Vá no teu pique Estrela cadente
E até nunca mais
Não te maltrates
Nem tente voltar
O que não tem mais vez
Nem lembro o teu nome
Nem sei Estrela qualquer
Lá no fundo do mar
Vento de maio
Rainha dos raios de sol"
Titulo da Música: Vento De Maio
Artista: Flávio Venturini
Escute aqui:
http://br.youtube.com/watch?v=-BXL4kvz44w
o mundo está mais próximo...
mas nem por isso melhor.
o mundo está mais pobre...
mais violento...
e nós mais adormecidos
(eles devem andar a espalhar um gaz qualquer que nos vai anestesiando...)
beijo Lóri
Deliciosa a Elis, Luizinho! Muito bem lembrado, e Flavio Venturini é tudo. Nunca tinha reparado mesmo a sério na letra. Valeu pelo texto! Beijos, querido professor-texto!
Eles querem que calemos todos e que esqueçamos. Por isso que eu gosto de lembrar sempre. Quem sabe alguém recomeça. Beijos de flower power Luís querido. Era bonito, era, recomçar com cravos! Saudades do Tejo!
Olga, querida, tens toda razão. Que tal uns pastéis de nata na Cavé, no início de junho? É que eu viajo a trabalho por dez dias a começar no próximo feriado e tive uma crise de coluna (eu que nem sabia o que era isso!) estes dias! Beijos e bom te ver por aqui!
Mas olha que loucura! Quem estava lá em Maio está hoje no poder deste governo que já bate todos os recordes de corrupção, incompetência e cara de pau. Hoje a Marina Silva pediu demissão porque não aguentou a pressão e viu que o idealismo do governo só vai até a página dois. Agora puseram lá um Zé Dirceu de saia que manda e desmanda e vai buscar no outro governo os podres para tapar o deste. Tenha dó!
Nem canhões, nem cravos, era essa quadrilha de enxada na mão, plantando para o povo comer!
Ih, fiquei brava. Já disse ao rapaz que agora é perigoso até falar ao telefone. Estamos na época das escutas. Vou implementar uma senha para quando a Julinha ligar para cá. Ela diz "Pitanga". Eu digo "Doce". O que vocês acham?
heheh
A Cavé está de pé.
Olá Lóri,
este teu outro país anda muito esquisito. Depois de 68 houve o 74 e tudo parece passado, embora se cante Zeca Afonso por aí de vez em quando.
Quanto ao Daniel, bem gostava de saber exactamente o que pensa deste tempo e daí, se calhar não gostava.
O que fazemos com um mundo às avessas?
Beijos. Não dizes mais nada?
Ó Lori, acho uma INSENSATEZ não ires ao PITANGA. Mas vai preparada ó mulheri
ÓÓÓÓ LÓÓÓRI!
Querida Lóri,
mai 68 está nas almas jovens que batalham cotidianamente, tal São Jorge, contra o dragão do oportunismo, conformismo e outros "ismos', sufixo definido pelo Houaiss "para designar uma intoxicação de um agente obviamente tóxico".Fiquemos, pois, com o sufixo (a)"ção". Ça suffit.
Beijo,
Telma
Telma
Gostei muito do seu post. Legal vc se lembrar do Caê.
Visite-me:
wwwrenatacordeiro.blogspot.com/
não há ponto depois de www
Um beijo,
Renata
O teu post trouxe-me à memória um cartaz com o famoso sorriso do Daniel Cohn-Bendit colado no armário do quarto do meu filho que partiu, um pouco mais abaixo morava o Che...
E eu gostava de ver aquele miúdo, que nem sequer ainda tinha nascido "naqueles Maios", os ter como heróis!
Aguardemos com esperança melhores dias, mas andamos todos muito cabisbaixos...
Abraço
Bonjour de juin , mai 68...c'est comme Paris, c'est fini...ou era Capri?
POis eu vivo na capital, Paris,
de luz so a interior, là fora està ???bling, bling?
é o barulhinho da moeda a cair...das maos dos mais pobres para as maos dos mais ricos, que é para ficarem mais ricos, mais nas nas fotos das capas de Match!
POis, sim senhora, eu também vou para a rua e manifesto, mas isto nao està para arrancar pavés, porque as praias mudaram-se para o
deserto.Os jovens estao a virtualizar à mort, os outros a estudarem ainda a ver se nao morrem pobres e sem connaissances, os mais no meio estao a tomar prozaques e sozinhos com crianças a educarem" travaillez plus , gagnez plus", nao me riu porque me doem os maxilares de chorar...
e os outros andam drunfados de depressao e quase, diria...desespero?
a rezarem ao ST. Précaire!
Ora bem, revoluçao...nao estou a ver.
O Daniel anda verde e a jogar à bola e ainda diz umas quantas, sim senhor.
O Sarkozy cansa tanto, que nem conseguimos reagir como deveria ser!
Bonne journnée Lori, cheguei aqui pelo olhar terno e poético-politico do guardador do Tejo.
Abraço, de Paris com frio e chuva
( nao lhe digo?...°
LM
Chère LM,
Li seu coment e depois reli meu post e acho q uma boa primeira resposta seria que, como diz o Milton Nascimento em uma música antiga, eu tenho "a estranha mania de ter fé na vida". E não vá pensar que é por falta de anos nas costas, mas os que tenho parecem que s'alègent par la force de l'humour, parfois aigre, mais toujours de l'humour.
Muito interessante e recheado de tantas idéias quea cho vou fazer um outro post para responder-lhe. Seja mt bem vinda por aqui, esse é um espaço de ficar na bronca e sair dela tb.
Abraço do Rio, com inversão térmica, que faz um nevoeirozinho de manhã, mas com sol de outono lindo estes dias. De dar inveja em qualquer parisiense au printemps.
Chère Lori, o Rio!
Claro que me podes dizer LM!
Merci pelo belo comentario acerca da carta de amor, escrevo-as desde 1984;
Ficticias e verdadeiras estas cartas de amorentre Pedro, Inez.
Merci. Sim, eu também tento actuar no positivo e no quotidiano, tem de ser. One by one.
Sol do teu Brasil, que nao conheço e que amo desde sempre.
Passa sempre, eu volto.
Bjos de Paris, até ficou Sol!!!
LM
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