terça-feira, 13 de maio de 2008

Ainda que o Daniel...

... Cohn-Bendit diga que não existe mais, que talvez nunca tenha existido, a não ser no desejo dos jovens de 40 anos atrás, eu acho, e estou certa de que muitos hão de concordar, que este mundo está cheio de motivos e pretextos para um outro maio. Há algo nesta estúpida esfera cada vez mais recheada de cérebros que pede, exige, que não se perca o sentido de Mai 68. Mesmo que todos já saibam que há sempre um pedacinho de plage sous les pavés. Mesmo que já quase nada seja proibido. Ou por isso mesmo.



Maio continua nas ruas do meu país. Maio continua nas ruas do meu outro país. Por favor, corrijam-me os daí, Luís, Rosa, Lauro, Cla. Ou melhor, maio devia continuar, a ver se alguém começava um novo modo de se conduzir e de conduzir os dias e as noites do povo que mora nas calçadas e dos que moram em casas que mal podem receber esse nome e dos que nem moram, por já se terem esquecido que fazem parte da mesma espécie dos que passam, pasta de couro embaixo do braço, perfumados e ausentes do mundo que os cerca. Anda tudo colorido, como abaixo. Mas as palavras do Caetano nunca foram tão realistas.

Sobre a cabeça os aviões
Sob os meus pés os caminhões
Aponta contra os chapadões
Meu nariz
Eu organizo o movimento
Eu oriento o carnaval
Eu inauguro o monumento no planalto central
Do país

Viva a bossa-sa-sa
Viva a palhoça-ça-ça-ça-ça
Viva a bossa-sa-sa
Viva a palhoça-ça-ça-ça-ça

O monumento é de papel crepom e prata
Os olhos verdes da mulata
A cabeleira esconde atrás da verde mata
O luar do sertão
O monumento não tem porta
A entrada de uma rua antiga, estreita e torta
E no joelho uma criança sorridente, feia e morta
Estende a mão

Viva a mata-ta-ta
Viva a mulata-ta-ta-ta-ta
Viva a mata-ta-ta
Viva a mulata-ta-ta-ta-ta

No pátio interno há uma piscina
Com água azul de Amaralina
Coqueiro, brisa e fala nordestina e faróis
Na mão direita tem uma roseira
Autenticando eterna primavera
E nos jardins os urubus passeiam a tarde inteira
Entre os girassóis

Viva Maria-ia-ia
Viva a Bahia-ia-ia-ia-ia
Viva Maria-ia-ia
Viva a Bahia-ia-ia-ia-ia

No pulso esquerdo bang-bang
Em suas veias corre muito pouco sangue
Mas seu coração balança a um samba de tamborim
Emite acordes dissonantes
Pelos cinco mil alto-falantes
Senhora e senhores ele põe os olhos grandes
Sobre mim

Viva Iracema-ma-ma
Viva Ipanema-ma-ma-ma-ma
Viva Iracema-ma-ma
Viva Ipanema-ma-ma-ma-ma

Domingo é o Fino da Bossa
Segunda-feira está na fossa
Terça-feira vai à roça
Porém
O monumento é bem moderno
Não disse nada do modelo do meu terno
Que tudo mais vá pro inferno, meu bem

Viva a banda-da-da
Carmem Miranda-da-da-da-da
Viva a banda-da-da
Carmem Miranda-da-da-da-da



domingo, 11 de maio de 2008

A Tropicália

Pra recordar.
Quando éramos revolucionários.
Quando éramos crianças.
Quando acreditávamos.
Quando lutava-se.
Quando amava-se.
Quando a terra era um planeta azul.
Quando havia ainda mais de 30 anos para se consertar o século.
Quando havia um país a consertar.
Quando iam todos mudar o mundo.